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Colunista

Marcelo Pardo

Minha cabeça é tomada por pensamentos que não controlo, sou normal ou posso estar doente?

Depende, cada caso é um caso e deve ser avaliado clinicamente por um psicólogo clínico e ou um médico psiquiatra, quando isto nos compromete o funcionamento normal, ocasiona perda de atenção e concentração nos estudos, no trabalho e ou nos relacionamentos com outras pessoas.

Os pensamentos constantes, repetitivos e os quais não conseguimos nos livrar são nomeados cientificamente como obsessões. É preciso ter muito cuidado antes de sairmos nos percebendo como sofrendo de algum Transtorno Mental ou apontando nos outros supostas doenças onde não existe. Isto pelo fato de que na condição de normalidade e de saúde mental qualquer ser humano pode apresentar algumas obsessões.

 

Os exemplos mais comuns são os pensamentos infantis que se repetem em torno do desejo de estar constantemente próximo da mãe, tendo em vista determinados aspectos do momento do desenvolvimento em que a criança se encontre; outro exemplo é quando desenvolvemos paixões por outras pessoas com quem desejamos alguma forma de relacionamento mais íntimo, isto principalmente após o complexo de Édipo, e nos períodos hoje compreendidos como pré-adolescência, adolescência e condição adulta dos seres humanos.

 

Então devo tentar relaxar com estes pensamentos repetitivos que me invadem a mente, pois eles são normais, inofensivos e não podem causar nenhum dano para mim ou para outras pessoas?

Negativo, inúmeros Transtornos Mentais apresentam obsessões como um dos sintomas presentes na sua atuação, exemplos disto são o hoje denominado mundialmente como Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), Transtorno Mental de estrutura neurótica e as psicoses e esquizofrenias onde tais pensamentos apresentam estruturação na forma de delírios e alucinações, os mais graves sintomas psíquicos que um ser humano pode desenvolver.

No caso do Transtorno Obsessivo Compulsivo, TOC, as obsessões podem passar desapercebidas por familiares e amigos, já que os sujeitos que delas sofrem não costumam falar sobre o assunto em função de vários preconceitos, temores de ser rotulados, marginalizados, chamados de loucos, ou mesmo pensarem que podem se tornar loucos em função dos pensamentos constantes, inevitáveis e repetitivos sobre um determinado tema.

 

Sim, a estruturação de uma pensamento obsessivo se caracteriza por uma espécie de delimitação, circunscrição temática. Há pessoas que possuem obsessões de ordem sexual, contínuos e sistemáticos pensamentos eróticos; há pessoas que possuem obsessões de ordem religiosa, mística, reprodução constante de pensamentos mágicos de uma ritualística específica de um deste ou aquele rito religioso. O paciente que sofra de Transtorno Obsessivo Compulsivo também apresentará as compulsões, comportamentos repetitivos, estereotipados, que visam de forma fantasiosa conter ansiedade, angustia, que eles pensam ser ocasionadas pelos pensamentos repetitivos.

As compulsões podem envolver o que popularmente denomina-se vícios; podem ser compulsões por jogos, noites e noites sem dormir à frente de computadores, videogames, celulares e jogos individuais e ou coletivos; podem envolver compulsões por masturbação, ato sexual, bem como por comportamentos ritualísticos de ordem religiosa, como rezar incansavelmente, sistematicamente, rotineiramente, geralmente envolvendo uma ideia de quantidade, como por exemplo, “eu tenho que rezar três vezes um terço do contrário não conseguirei dormir, ou um determinado salmo específico, sempre repetitivo, para ter um bom dia, fazer o sinal da cruz em frente de igrejas para que me seja dada uma espécie de proteção mágica especial em relação ao resto da humanidade.

 

É importante deixarmos claro que nenhum dos comportamentos em si são sintomas de Transtornos por si só, daí a necessidade de uma avaliação profissional para que seja diagnosticado se tais comportamentos estão dentro de uma estrutura de normalidade e ou sanidade mental. Nos dias atuais a obsessão mais comum e presente em nossa civilização é pensarmos haver a necessidade de olharmos as redes sociais em nossos celulares e a compulsão de mexermos em nossos celulares, este comportamento último sendo o mais comum e observável por todos.

Em casos de psicose e esquizofrenias, o que a população em geral chama de loucura, as obsessões apresentam estruturação mais complexa, profunda e perigosa para o sujeito que dela sofra ou para as pessoas que convocam com estes pacientes. Isto acontece pelo fato de que tais obsessões farão parte da organização de delírios e alucinações.

 

Em casos de delírios, estórias fantástica são organizadas no imaginário do sujeito, as obsessões podem ganhar a dimensão de que o sujeito possa ser alguém de uma grande importância social, possa ser um deus, possuir capacidades sobre-humanas como a de saber o pensamento de outras pessoas, suas intenções. Estes delírios obsessivos são perigosos, pois caso tenham uma organização paranoica, irão adquirir a forma de pensamentos persecutórios, onde uma ideia de perseguição constante se instala no sujeito e a possibilidade de eleger uma outra pessoa qualquer como seu perseguidor se torna real no imaginário destes sujeitos. São pessoas que veem “anjos e demônios” em toda parte.

Há um perigo real destes processos obsessivos, pois o sujeito que se perceba perseguido por alguém pode tentar se defender deste alguém, mesmo que na realidade o outro pobre coitado sequer saiba que o sujeito, neste caso transtornado, lhe perceba como uma ameaça.

 

O tema é deveras amplo e complexo, mas deve ser tratado sem paixões e de forma técnica. Tanto na forma neurótica, como o Transtorno Obsessivo Compulsivo, quanto nas formas psicóticas e esquizofrênicas. Existem tratamentos psicoterápicos e medicamentosos para a diminuição e o controle destes sintomas em suas diversas formas de funcionamento e psicopatologias. Para um diagnóstico preciso, procure um profissional.

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