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Colunista

Marcelo Pardo

Agressividade e violência: o que são, em que se diferem?

AGRESSIVIDADE, tendência para a assertividade, dominação social, comportamento ameaçador e hostilidade. Pode provocar uma mudança temporária comportamento do indivíduo ou ser um traço característico da pessoa”. Dicionário de Psicologia da American Psichological Association.

VIOLÊNCIA, expressão de hostilidade e raiva com a intenção de ferir ou prejudicar pessoas ou propriedades, através da força física.

Geralmente quando as palavras agressividade e violência são usadas, tendemos a pensar que elas possuem o mesmo significado, quando na verdade não são a mesma coisa. A agressividade é inata, hereditária, em uma síntese grosseira, é uma espécie de impulso interno que busca descarga com vistas a causar dor, sofrimento e ou destruição que nasce, se não em todos, de certo que na grande maioria das espécies vivas, animais e vegetais; a agressividade independe da necessidade de elaboração mental superior, como nos humanos ou em muito menor escala nos primatas em geral, pode ser detectada em plantas pois que a agressividade é necessária para defesa e preservação das espécies, sendo fundamental para a adaptação às pressões do meio ambiente.

Mas quando termina a agressividade e começa a violência?

A violência, ao contrário da agressividade, não é herança biológica, ela exige aprendizagem, pois se trata de ação comportamental, associação do impulso de agressividade como forma de expressão, ação e atitude, portanto a violência é a ação propriamente dita de indivíduos ou grupos independentemente das motivações que implicam impulso agressivo. A humanidade sempre foi extremamente violenta, milhões foram mortos na disputa por territórios, alimentos e muito posteriormente pelo que se convencionou chamar de riquezas materiais e políticas.

É um erro afirmarmos que nos dias atuais vivemos um período histórico mais violento que períodos anteriores, muito pelo contrário, vivemos um período extremamente menos violento e mortal que tempos historicamente passados, mesmo que em um passado recente, como o vivido pelo holocausto judeu imposto pelos nazistas de extrema direita, ou os tempos da revolução cultural chinesa que matou dezenas de milhões, ou ainda o stalinismo soviético onde a extrema esquerda gerou brutalidade e violência, dando a ambos os extremos de direita e esquerda o mesmo lugar de brutalidade e extermínio. A diferença é que a mortandade comunista se deu de forma indireta enquanto que o nazismo de extrema direita gerou a vergonhosa e desumana industrialização das mortes em massa de opositores nos chamados campos de concentração e extermínio planejados, projetados e construídos com este claro objetivo.

A violência brutal, incluindo no ambiente familiar, é retratada em mitos, lendas e contos antigos como consta no mito grego de Medea que para fugir do reino da Cólquida com Jasão mata seu irmão Absirto, desmembrando em pedaços e espalhando pelo reino, para que seu pai junte os pedaços do filho pelo reino enquanto Medea e Jasão partem em direção à cidade de Corinto, onde Jasão ao chegar se apaixona pela princesa Glaucia propondo a Medea que se torne sua amante, novamente a violência familiar nos é apresentada no mito grego. Por vingança, Medea mata os próprios filhos, deixando Jasão furioso, e foge em uma carruagem dourada dada por seu avô, o deus Hélio.

Outra lenda muito conhecida no mundo ocidental é a presente no texto bíblico do livro de Gênesis, onde Deus, após criar o universo e a Terra, teria criado o homem a partir do barro e o colocado em um jardim por nome Éden. Após queixas e pedidos do homem, Deus teria criado a mulher a partir de um pedaço de uma das costelas de Adão. Com a primeira mulher, Adão descobre a consciência, a racionalidade e o sexo, passa a procriar e ter os filhos Caim e Abel. Abel era pastor, criava ovelhas e oferecia as mais robustas em sacrifico para honra de Deus; Caim por sua vez era agricultor, oferecia em sacrifícios não os melhores frutos, o que fazia com que Abel fosse o queridinho de todos. A lenda narra que por inveja Caim teria matado Abel.

Mas o que estes mitos e lendas tentam nos ensinar, que mesmo em famílias criadas por deuses a corrupção, a agressividade e a violência estão presentes, algo óbvio já que mitos e lendas são criados para falar de fenômenos humanos? A exemplo disto a história nos apresenta, no velho Egito, Cleópatra VII última faraó do Egito no ano 51 antes de Cristo, que herdou de seu pai Ptolomeu XII o trono do Egito compartilhado com seu irmão Pitolomeu XIII, irmão que Cleópatra mandou matar posteriormente para se tornar a única soberana do Egito.

Para a psicanálise freudiana, o ser humano resulta, inicialmente, e, posteriormente, é impulsionado por duas pulsões básicas, Eros e Tanatos, pulsão de vida e pulsão de morte. Eros ou pulsão de vida teoricamente é o impulso sexual que visa toda forma de prazeres em humanos, desde sugar o peito materno, onde o bebê sacia a fome e a sede, bem como, mais tarde, ao longo de seu desenvolvimento, prazeres genitais estruturados nas demandas de prazer presentes no corpo e organizados nas diversas formas de orientações sexuais existentes em humanos. Tanatos ou pulsão de morte, por sua vez, implica também em uma certa forma de prazer com tudo que se refere a dor, autoflagelo, sofrimento, perdas e morte.

Podemos perceber essas formas de prazer se apresentarem na forma sistemática e contínua de culto ao que aos olhos dos outros soa como sofrimento, como os encontrados em pacientes melancólicos, depressivos, entristecidos, masoquistas, que se autodepreciam, mas também no sadismo, quando o prazer da dor e do sofrimento está em causar em outras pessoas estas formas de prazer; ou em certas formas de perversão, quando o prazer estará ligado ao torturar, matar, esquartejar, podendo vir estes comportamentos violentos cercados de uma certa narrativa moral que tente justificar essas formas prazer brutais e extremamente violentas.

Essas estruturas mais bárbaras, sádicas e ou perversas são patológicas e muitas vezes criminosas, o que pese o perverso não está nenhum pouco preocupado com leis jurídicas, já que seu prazer pela violência contra outra pessoas está acima de qualquer forma de condenação ou penalidade, é uma criatura completamente desprovida de ética ou moral, um hedonista que sem limite algum manipula a linguagem, os valores de dado grupo social e as instituições, para simplesmente saciar seus desejos brutais e violentos.

Os mitos, lendas e histórias antigas citadas acima visam dar maior clareza de que a violência é algo brutal e presente na história humana desde sempre e em vários contextos, que vão desde o espaço de nossas casas até os grandes impérios mundiais. Nos dias atuais vemos a violência sendo exercida em todos os espaços públicos e privados nas formas de torturas, assassinatos, privações de liberdade, guerras, terrorismo, assaltos, violências de gênero, de crenças, de diferenças de orientação sexual, de torcidas de futebol, de uso de drogas lícitas e ilegais, por herança, por alimentos, por posse etc.

A violência está presente onde há o ser humano, dela não conseguimos nos livrar completamente, estando presente mesmo em países mais desenvolvidos e civilizados, obviamente que em ambientes de guerra ou em países miseráveis econômica e culturalmente, como é o caso dos países da América Latina, como o Brasil, da África, da Ásia e da Oceania. Em cada pessoa ou agrupamento de pessoas a agressividade será expressada de forma violenta por motivações das mais variadas, algumas delas já citadas aqui neste texto. Certo é afirmar que todo ser humano pode ser agressivo, muitos podem expressar essa agressividade de forma violenta, sendo fenômeno comum e diário em todos os cantos do planeta.

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