Drogas seria o casamento perfeito? Quais as razões para tantas pessoas se viciarem em uma ou mais drogas?

Este é um tema que pode ser abordado por uma infinidade de possibilidades, mas aqui neste texto, vamos tratá-lo de forma simples, de maneira que as donas Maria e seus Josés que o leiam possam entender as razões que levariam seus filhos, irmãos, primos, tios, pais ou amigos a consumirem drogas.
Desde os anos 1970, os EUA declararam guerra às drogas ilícitas em seu território e, posteriormente, pressionaram os países sob os quais têm influência, a criminalizarem e penalizarem tráfico e consumo de determinadas drogas. Após 50 anos de treinamento, aparelhamento e combate ao narcotráfico, os números de dependentes químicos, usuários de drogas, o volume produzido e comercializado, as capacidades tecnológicas e logísticas de produção, armazenamento e transporte e o volume em dinheiro que movimenta o narcotráfico, cresceram descontroladamente em todo mundo, a repressão fracassa inclusive dentro do território dos EUA, país que possui o maior número de usuários de drogas em todo planeta.
Há uma variedade enorme de drogas sendo consumidas em todo mundo, elas podem ser oriundas de determinadas plantas, como é o caso da maconha ou do ópio ou da coca; as drogas podem sofrer alguma forma de industrialização a partir de uma planta, como é o caso da cocaína, o ácido lisérgico etc; ou ainda, as drogas podem ser totalmente sintéticas, como é o caso das anfetaminas. Como qualquer comércio no mundo, as drogas são uma espécie de produto a ser vendido, mesmo que sendo um crime, elas podem ser encontradas em praticamente todas as cidades das Américas, Europa, Ásia e Oceania. Sendo comum sua utilização por parte considerável das populações humanas. As drogas possuem valores comerciais diferenciados, indo das mais baratas até as mais caras, o que do ponto de vista comercial, segue o padrão de exigência do poder de compra daqueles que as consomem. Sim, tem drogas de pobres e drogas de ricos, de tal maneira que existe, também, no vício das drogas uma segregação social entre consumidores.
As drogas são várias, mas sua utilização atende um conjunto de demandas relativamente padronizadas por parte de seus consumidores. Não é qualquer droga que é consumida por qualquer usuário, os leigos em geral tendem a chamar isto de preferência, a bem da verdade não é bem assim, cada droga possui um conjunto de ações específicas no ser humano, no corpo e na mente daqueles que são usuários ou dependentes químicos.
Podemos afirmar do ponto de vista científico que as drogas podem ser agrupadas nas seguintes categorias. Drogas depressoras do Sistema Nervoso Central, drogas excitatórias do Sistema Nervoso Central e drogas alucinatórias do Sistema Nervoso Central. Este é o ponto central das razões que levam alguém a usar esta e não aquela droga em particular. Ninguém usa drogas por usar, por acaso, sem razões, as pessoas usam drogas para em determinados períodos de tempo viverem sob os efeitos provocados da droga consumida. De tal sorte que é necessário um conjunto de características na estrutura de personalidade de cada usuário e ou dependente químico, para que se faça a escolha de determinada droga em detrimento das demais. Como seria isto?
Pessoas que em suas estruturas de personalidade possuem forte atuação da ansiedade, elevada excitação do Sistema Nervoso Central, buscam drogas que reduzam estes níveis de ansiedade e excitação, como é o caso da maconha, por exemplo. Pessoas que, por sua vez, apresentam em sua estrutura de personalidade elevados níveis de depressão do Sistema Nervoso Central buscarão, por sua vez, drogas que excitem o Sistema Nervoso Central, como é o caso da cocaína, por exemplo. De tal maneira que o consumo de drogas atenderá necessidades objetivas e subjetivas de cada pessoa, não havendo um uso indiscriminado destas substâncias, na maioria dos casos. É sempre importante lembramos que além de criminoso, a produção, transporte e comercialização de drogas ilícitas é crime e seu consumo provoca severos danos à saúde humana, algo que, no entanto, não tem sido levado em consideração por grande parcela da população mundial diretamente envolvida.
Casamento perfeito? Sim, poderíamos imaginar um mundo de realidades delirantes, fantasiosas e alucinatórias que o objeto perfeito a ser encontrado estaria nas drogas. Nesta compreensão hedonista humana, o sujeito humano se entregaria aos prazeres de sensações despertadas pelas drogas e se alienaria por completo das realidades da cultura onde o mal estar da civilização nos traz a todos dores e sofrimentos de toda sorte. Eis o mistério a ser revelado, a falsa ideia de um encontro objetivo, concerto com as utopias prazerosas de uma espécie de felicidade plena e constante, nada mais ingênuo, romântico e mitológico. Algo que tem levado a relativizar inclusive a própria existência em um contexto cultural civilizatório. Como ouvi de um paciente certa vez, “a gente se droga para poder suportar a realidade”, em uma frase tão curta e simples toda uma cadeia de razões para tentar dar conta dos desprazeres que a vida também proporciona a todos, independentemente de classe social ou níveis de instrução.
É importante salientar que o presente texto visa apenas promover um debate sério, sob um aspecto da questão das drogas, sem a utópica pretensão de esgotar ou resumir tema tão vasto e complexo. Existem registros de uso de drogas em culturas humanas entre 8 e 12 mil anos, se drogar tem sido rota de rituais místicos, festivos ou de isolamento pessoal desde tempos imemoráveis. Os desafios no lidar com este tema têm sido constantes para vários ramos de pensamento e atuação humana e a ideia de uma forma de organização civilizatória sem drogas tem sido uma realidade cada vez mais distante. Àqueles que se percebam escravos do vício busquem tratamento, as ciências da saúde têm conseguido algum avanço e progresso, mesmo que em níveis ainda modestos.

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