Brasil
Operações da PF revelam expansão do tráfico de ketamina no Brasil
O uso uso indevido da droga pode resultar em complicações graves, como problemas respiratórios, amnésia e danos neurológicos a longo prazo

Volume apreendido de ketamina no País aumentou de 2.514 gramas para 4.463 gramas da droga no ano passado, em comparação com 2022 – Foto: Divulgação/PC-AM
As apreensões de ketamina no Brasil mais do que dobraram em 2023 comparado a 2022, segundo a Polícia Federal (PF). Os registros mostram um salto de 10 para 22 casos, com um aumento de 78% nos gramas apreendidos, de 2.514 para 4.463. Em comparação com 2021, quando foram registradas quatro apreensões totalizando 698 gramas, o aumento é ainda mais expressivo. A ketamina é um anestésico veterinário frequentemente usado ilegalmente como droga recreativa devido aos seus efeitos dissociativos e alucinógenos.
Das 22 apreensões da PF no ano passado, 17 foram na cidade de São Paulo. Na maior delas, em janeiro de 2022, foram 972,8 gramas da droga – suficiente para anestesiar cirurgicamente ao menos 100 pessoas.
Este crescimento sugere uma tendência alarmante de abuso da droga, que também tem implicações legais e de saúde pública.
O que alimenta o tráfico, além do potencial alucinógeno, é o alto preço no mercado clandestino. Uma ampola de cetamina que custa cerca de R$ 90 no mercado legal, é revendida por até R$ 400 a traficantes. Em pó, a ketamina é vendida entre R$ 100 a R$ 150 o grama. Uma ampola de 50 ml desidratada pode render até 10 gramas de pó.
A ketamina e seus riscos
A ketamina, além de seu uso legal em medicina veterinária, tornou-se uma substância popular em festas e ambientes recreativos, especialmente entre jovens. Seus efeitos podem incluir sensações de euforia, despersonalização e alucinações. No entanto, o uso indevido pode resultar em complicações graves, como problemas respiratórios, amnésia e danos neurológicos a longo prazo.
Este narcótico, obtido tanto de medicamentos humanos quanto veterinários, tem sido notório recentemente devido ao caso da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, encontrada morta em sua residência em Manaus. Enquanto a investigação prossegue, suspeita-se que sua morte possa ter sido causada por overdose de ketamina, trazendo à tona debates sobre as políticas de controle de substâncias e a conscientização sobre os riscos associados ao consumo de drogas sintéticas.
O aumento nas apreensões da droga reflete sua crescente disseminação pelo Brasil, com casos notáveis em grandes centros urbanos como São Paulo, Campinas, Santos, e outras cidades como Manaus, Curitiba, Fortaleza, Campo Grande, Rio de Janeiro, e Pelotas.
Em resposta a esse fenômeno, a Polícia Federal intensificou suas operações, destacando-se a Operação Special-K em Bauru, que resultou na prisão de dois indivíduos envolvidos no desvio e distribuição de ketamina. Em Manaus, a Polícia Civil, sob o comando do delegado Cícero Túlio, do 1º Distrito Integrado de Polícia, tenta desvendar como essa droga tem sido distribuída em Manaus e como chegou à família Cardoso.
De medicamento à droga ilícita
Em seu uso veterinário, a cetamina tem a venda controlada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Já como medicamento humano, é usada como anestésico geral em cirurgias e classificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como psicotrópico, sujeito a controle especial. Não é vendido em farmácias.
Conforme as normas agropecuárias, há exigências para a venda desses produtos, que só pode ser feita com receituário próprio, emitido por veterinário. Cada venda deve ser informada a um sistema de controle do Mapa.
O Ministério da Agricultura e Pecuária esclareceu que, até a presente data, não recebeu nenhum pedido oficial relacionado à investigação sobre o caso de Djidja Cardoso.
“Seguimos atentos e acompanhando possíveis desdobramentos. Esclarecemos que a competência do Ministério estará restrita à área médico-veterinária, não abrangendo investigações sobre o uso de substâncias por indivíduos, quantidade de droga em locais específicos e outras questões de natureza criminal. Tais investigações são de responsabilidade das autoridades policiais competentes”, disse, em nota.
*Com informações do Estadão

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