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Espero que entendam a gravidade dessa sentença, diz Léo Lins

Humorista condenado a 8 anos de prisão e pagamento de indenização de R$ 303,6 mil gravou vídeo para se defender

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Reprodução/ YouTube

O comediante Léo Lins, 42 anos, publicou um vídeo em seu canal no YouTube para se pronunciar sobre a sentença, proferida pela Justiça Federal, que o condenou a 8 anos e 3 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, pela prática dos crimes de discriminação e discurso de ódio.

A sentença também determinou o pagamento de multa de 1.170 salários mínimos e indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. “Eu espero que os humoristas e que a classe artística entendam a gravidade de uma sentença como essa. Eu sei que muitos estão indignados com a minha condenação, alguns estão felizes, porque é isso que virou a nossa sociedade: um coliseu romano”, afirmou o comediante.

A condenação está relacionada a um vídeo de stand-up comedy intitulado “Perturbador”, publicado em 2022, que acumulou mais de 3 milhões de visualizações antes de ser suspenso judicialmente em 2023. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), autor da denúncia, o show continha declarações contra diversos grupos sociais, incluindo negros, idosos, obesos, pessoas vivendo com HIV, homossexuais, indígenas, nordestinos, evangélicos, judeus e pessoas com deficiência.

Em sua fala, Lins admitiu que não pode afirmar ser impossível que uma pessoa, ao ouvir uma piada, possa cometer um crime de ódio e agredir alguém física ou psicologicamente.

“Se a pessoa fizer isso, ela que responda pelo crime que ela cometeu. Eu não posso jogar ‘Street Fighter’ [game de luta], agredir alguém e colocar a culpa no japonês que fez o jogo”, argumentou. “Fazer isso e proibir o jogo vai impedir milhões de pessoas de se divertirem por causa de 1 idiota. E é isso que estamos fazendo: nivelando a sociedade pelo idiota”, acrescentou.

Para se defender, Lins mencionou as fraudes do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e disse que, pelo argumento da sentença judicial (de que piadas podem incentivar o crime, o ódio e o preconceito), “provavelmente, então, essas pessoas envolvidas no desvio de bilhões do INSS, coitados, às vezes eles só ouviram muitas piadas de idoso ou piadas de corrupção”.

Para o humorista, concordar com a sentença da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo é “assinar um atestado de que somos adultos infantilóides”, sem capacidade de discernimento, e que precisamos “de um Estado falando do que você pode rir, o que você pode ouvir, o que você vai poder comer, o que você vai poder falar e até o que você pode pensar”.

O comediante de stand-up também destaca um dos motivos pelos quais a sua pena foi acrescida: o fato de o vídeo da apresentação estar disponível na internet, saindo, portanto, do âmbito exclusivo do palco teatral.

“Então, a partir de agora, se eu assistir a um filme de romance, eu posso processar os atores do filme por atentado ao pudor”, comparou. “Isso é de uma limitação cognitiva preocupante.”

Ao longo do vídeo, Lins faz uma série de críticas ao texto da sentença. Afirma que não há embasamento teórico a respeito do humor e que a decisão não considera que um comediante, no palco, interpreta uma “persona cômica” e que, portanto, não caberia uma análise literal de seu discurso. Ele cita Simon Critchley, um filósofo inglês, professor na New School for Social Research em Nova York.

“Um humorista no palco interpreta um personagem. Na construção do texto, nós usamos figuras de linguagem – metáfora, hipérbole, ironia – numa licença estética, e, portanto, uma análise literal desse texto não se aplica na estrutura do cômico“, afirmou. O humorista agradeceu o apoio que tem recebido de fãs e da classe artística e, ao fim do vídeo, declarou que “se rir virou crime, o silêncio virou regra”.

*Poder360